22 de outubro de 2009

Memória


Sempre tive um carinho especial por essa palavra: MEMÓRIA; pois que me remete a tantas coisas, e não importa se são boas ou desagradáveis, são sobretudo, memórias... A bússola que orienta e também desorienta.

Tenho essa coisa de ver certa plasticidade em coisas não tão comuns para esse fim, como números e associações com cores e suas formas, e também em palavras, talvez porque goste delas (e bem mais que os números).

SINGELA, eu digo que é uma palavra que gosto. Mas, ultimamente, MEMÓRIA.
Essa palavra consistente lembra-me madeira, baús, gavetas, caixas, objetos de um mundo longínquo chamado passado. Posso dizer até que tenha cheiro, aquele cheiro de algo guardado, do mantido que é redescoberto, do pó, de manchas amareladas, manchas de tempo.

As memórias são algo engraçado... Parecem ser coisas distantes, remotas, mas não. Tudo é memória, o tempo todo. Gostos, decisões, atitudes, emoções... Tudo guiado pelo nosso mapa da vida, cujo cartógrafa, ela, a memória.

Bonito mesmo é como lidamos com ela, também possível chamarmos lembranças, recordações, tanto faz, mas devo dizer o quão tenho como belo ver-me em memórias; buscar, solicitar aquilo que já foi, para ser novamente. Traduzi-las em sorrisos ou lágrimas, histórias, reflexões, em escrita, por exemplo, qualquer tipo de expressão... Renová-las, transformá-las em novas memórias, e assim sucessivamente.

As memórias tecem a vida, porque na desconfiança, às vezes me pergunto, se até mesmo lá no futuro não estarão elas. Talvez o que se considera morto, passado, não se acomode tão confortavelmente aí.

Quem de nós ao abrir uma gaveta há muito fechada, ou ser surpreendido por um bilhete em meio aos velhos livros, não encontrou ali algo cheio de vida, vida pulsante, que não deixou de ser. Há memórias faceiras e fáceis,  e outras que somente após escavação corajosa.

Procura esse objeto, palavra, imagem, procura distraidamente, como quem tropeça na obviedade da vida, e aproveite o passeio pela arqueologia de sua história.


Sheila Chaves

3 comentários:

Ana disse...

Tbm acho que "tudo é memória, o tempo todo"... até a memória inventada, fantasiada. Gosto dessa categoria: memória inventada. Ou "as não memórias". *mais um anexo pro email. ;)

Eu daria tudo pela memória de quem viu uma borboleta entrar no vagão de trem, e que desceu na próxima estação pra comprar um chapéu. E tbm a memória do dia em que ganhei o buquê de lápis apontados!

É assunto que não se esgota... essa é a melhor parte.
Beijão enorme, amiga!

Ana disse...

Ahh... "sobre a bússola que orienta e também desorienta" vai um texto completo tbm... ehehe. É uma frase que puxa a outra... adoro! :D

Lembrei desse trecho da Adriana Lisboa na hora que li a TUA bússola: "Os quatro quintais da casa do meu avô arrumaram-se numa bússola, e quando eu pisei pela primeira vez numa caravela fervilhando de adultos, vinha com ela no bolso. Se não como guia, ao menos como amuleto."

:*****

Sheila C.S. disse...

Ai, o buquê de lápis apontados...! Sempre me arrancará um sorriso essa memória fantasiada.