28 de agosto de 2008

Sobre o Bem e o Mal

Como estudante de Psicologia, tenho entrado em contato com uma série de conhecimentos extremamente significativos, que têm ampliado minha visão de mundo e principalmente vem desacomodando certos olhares sobre diferentes aspectos do universo humano. Dentro desse contexto acadêmico, sempre tem aqueles professores com o dom de transformar as nossas vidas, seja pela sua competência, ou simplesmente pela habilidade de "ser" professor, com todas as características que se espera de um profissional comprometido com uma verdadeira educação. Eu venho tendo a felicidade, desde o início desse ano, de ser estimulada a pensar, ou melhor, arriscaria-me a dizer até "filosofar" sobre questões essenciais do "mundo da vida", a partir das aulas de um professor muito grandioso, e tenho certeza que posso fazer essa afirmação, Prof. Osmar Schaeffer. Ele foi professor titular da cadeira de "Fundamentos Históricos e Epistemológicos da Psicologia" e agora está nos conduzindo pelo caminho (teórico, claro) da "Antropologia Social".
Dentre algumas leituras que fiz, influenciada pelas suas aulas, tem um livro que esse professor indicou-me, tendo em vista meu interesse pela filosofia na psicologia e vice-versa... "O CORAÇÃO DO HOMEM - Seu Gênio para o Bem e para o Mal ". É um livro esgotado, de 1964. Eu mesmo consegui em um sebo pela internet... Mas, apesar de se tratar de um livro "antigo", seu conteúdo é muito atual e proporciona um esclarecimento bastante consistente sobre questões que estão presentes nas palavras das pessoas em nosso cotidiano contemporâneo, que buscam compreender todo um contexto social doentio: a violência, a maldade, a natureza do homem: "lobo ou cordeiro"?, o narcisismo, liberdade; entre outros ítens que vêm ao encontro de nossas angústias atuais e cotidianas... Vale ressaltar que dentro de uma perspectiva psicanalítica.
Deixo aqui um fragmento da sinopse do livro e após, um trecho que mexeu bastante comigo e que traduz uma idéia que desde o curso de Artes vem sendo alimentada e acreditada por mim...
"Erich Fromm mostra, neste seu último trabalho, como o homem está perdendo a capacidade de independência, amor e razão, desenvolvendo em lugar dela forças destruidoras que levam à desumanização, e ilustra sua análise do mal com muitos exemplos concretos. À base de suas constatações, discute então a liberdade que o homem tem de escolher entre amor e ódio, e examina as forças da natureza humana que bloqueiam as energias criadoras, deformando o instinto do bem numa atração pelo mal..."
Trecho do livro - Cap. II "Diferentes Formas de Violência" (pág. 34, 35)
"A violência compensatória é o resultado da vida não vivida e deturpada, e seu resultado necessário. Pode ser suprimida pelo medo ao castigo, pode até ser desviada por espetáculos e divertimentos de toda sorte. Todavia, permanece como potencial em sua plenitude, e sempre que as forças supressoras enfraquecem-se, torna-se manifesta. A única cura para a destrutividade compensatória é o desenvolvimento do potencial criador do homem, da capacidade dele para fazer uso produtivo de seus poderes humanos. Só se o homem deixar de ser aleijado deixará de ser destruidor e sádico, e só condições em que o homem possa interessar-se pela vida poderão fazer desaparecer os impulsos que tornam tão vergonhosa a história passada e presente do homem. A violência compensatória não se acha, como a violência reativa, a serviço da vida; é um sucedâneo patológico da vida, indicando a deformação e vacuidade da vida. Mas em sua própria negação da vida, ainda demonstra a necessidade do homem de estar vivo e de não ser um inválido."
Considero essas palavras bastante fortes... Muito a ser pensado sobre elas... Um "prato cheio" para psicólogos, educadores, e todos os profissionais que dedicam seus dias às relações humanas!!!
Dessa vez fui bastante extensa, mas essa é uma característica minha... difícil ser diferente, mas tudo bem... p/ compensar tanto tempo distante deste espaço.
Até a próx.!!!

2 comentários:

Psicólogo Cláudio Drews disse...

Que bom!! Outra pessoa no curso que gosta de escrever!!
Sobre a citação que destacesse em vermelho neste post, acho que sintetiza muito bem os arroubos de clamores populares por punições cada vez mais severas e o total e completo abandono do aspecto ressocializador do direito penal. Enquanto isso só agrava o problema, os casos que a mídia expõe como shows de monstruosidades aplaca a violência latente decorrente da frustração de vidas mal vividas de pessoas que estão na base de de uma sociedade voltada para o capital e que - embora seja permeada de uma moralidade distorcida - não possui a menor consideração pelos aspectos humanos nas relações de produção.

Sheila C.S. disse...

Caro mr. cortex:
Em primeiro lugar, obrigada pela atenção em comentar meu post... Outro problema, aproveitando o que você colocou, é que os próprios sujeitos que possuem o PODER de punir, na sua grande maioria também estão "doentes", não saberia dizer se doentes porque já foram consumidos pelo sistema o qual fazem parte ou por questões de suas próprias vivências problemáticas, resultando em uma personalidade que tende a ver esse poder como uma válvula de escape para seus impulsos destrutivos, e o que é pior, em função de uma falsa moralidade. Dessa forma, nos encontramos realmente em uma cadeia de fatos, causas e conseqüências que deixam muito pouco espaço para que uma consciência de ressocialização possa vir à tona nesses contextos. Claro... sem tocar na questão da mídia, pois essa sim, precisa de um espaço muito maior para que possamos refletir sobre a sua relação com o tema aqui proposto.