26 de junho de 2009

Experiências capilares





Parei na frente do espelho e me pus a pensar sobre uma questão engraçada e peculiar, questão essa que era motivo de preocupação extrema na adolescência... Deus me livre!!! Que coisa feia ter raiz, raiz preta, aquela teimosa aparição que insiste em estar lá denunciando a mentira... Essa não é a cor verdadeira, ou seja, você não é loira, não é ruiva, não é tão morena assim, não é, não é, não é... Como ousa querer ser assim, arco-íris?

Alguns anos mais tarde comecei a repensar seriamente essa questão. E claro... As leis da adolescência afrouxaram e deixaram com que as reflexões mais soltas tomassem seus lugares. É que eu nunca resisti a essa coisa de cor no cabelo... Era tão estimulante o fato de que bastava alguma meia hora e lá estava uma outra.

Na minha época isso que chamam luzes não era assim tão popular, e mesmo que fosse, veja bem, loira, jamais! Jamais mesmo! Como eu já disse o cabelo era mais que castanho escuro, quase preto mesmo...

Mas eis que eu me divertia com os diferentes tons que surgiam. E durante certa época de minha vida, passava-se algum tempo e lá estava eu, pela rua, carregando uma sacolinha com aquelas caixinhas de tintura, pronta para mais uma experiência capilar...

E assim foi durante alguns anos, sem falar nos cortes, mas daí precisaria um outro texto, exclusivo para as boas experiências e tragédias traumáticas que passamos eu e a tesoura, entre elas uma certa ocasião em que eu estava perfeita para substituir um dos integrantes da dupla Chitãozinho e Xororó, caso fosse necessário...

Mas, voltando às cores, um dia eu cansei disso tudo e decidi: Meu cabelo voltaria a ser virgem... Isso mesmo, virgem... O termo é ótimo pois que o cabelo é talvez a única parte do corpo que pode voltar a essa condição imaculada. E ele voltou, aos poucos, com o passar do tempo, de forma gradual e por demais tediosa, a ser virgem novamente. A cada tesourada, onde as mechas manchadas acabavam jogadas ao chão, ele ia perdendo as suas máculas, livrando-se de seus pecados. Mal sabia ele, que logo após esse esforço todo, ele realmente se rebelaria, como nunca antes havia pensado.

E de repente, na estação mais propensa às mudanças radicais... Estava eu a curtir as férias de verão na praia, em um apartamento logo acima de um salão de beleza, onde duas pessoas, queridas por demais, trabalhavam... E um deles me tentou: -Já pensou em fazer luzes? Ia ficar lindo!!! -Mas bem capaz!!! Dizia eu, com meu sotaque do sul.

Tem certas coisas que por mais bobas que possam parecer, têm o dom de encaixar-se perfeitamente em nossos pensamentos e ficam lá, brincando com a gente, dando o ar da graça subitamente, para que comecemos a lhes dar a devida atenção... Com a proposta indecorosa foi assim. E dentro de alguns meses eu estava loira, loira mesmo, reluzindo os fios de ouro ao sol...

A cada visita ao salão, o processo se agravava, e mais loira eu saía... E foi assim até que o senso de estética sugeriu que já estava bom, mais que aquilo... Desde então, os retoques têm sido a minha missão bimensal... E hoje convivo amigavelmente e faceira com aquela que fala a verdade, a raiz. E eu adoro as verdades que ela fala... Sobre a transitoriedade e outras coisas da vida, sobre o tempo. Ela está lá para me lembrar que passou.

Duas cores que se gostam, mas vivem a brigar, o escuro aparece e durante um tempo eles ficam juntos, se amam, se enroscam, até que por uma disputa de espaço ela o expulsa (a loirice), mas logo logo ela começa a ceder e lá está ele novamente... Dia e noite na minha cabeça. Daqui a pouco, eu sei que daqui a bem pouquinho, uma terceira cor entrará nessa jogada, e me apontará o futuro. Mas isso tudo é tão humano, tão real, índices do tempo. Eu quero ser sempre arco-íris!



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