17 de fevereiro de 2010

Questão de sentir


No desejo de compartilhar, reproduzo aqui um trecho do livro "Mulheres que correm com os Lobos" de Clarissa Pinkola Estés. Num contexto moderno, onde nada mais resta ao corpo do que sua redução a simples objeto de apreciação estética e motivo para que milhares de mulheres não se reconheçam em seus próprios corpos, penso ser de sublime beleza reflexiva as palavras que seguem, onde a visão do corpo é contemplada de uma forma rica e ampla. O texto ganha força na íntegra, levando em conta o contexto do livro, que poderia chamar assim, uma bíblia feminina. Um livro essencial! Para mulheres (e homens) carentes de alma!

"O corpo é um planeta. Ele é uma terra por si só. Como qualquer paisagem, ele é vulnerável ao excesso de construções, a ser retalhado em lotes, a se ver isolado, esgotado e alijado do seu poder. A mulher mais selvagem não será facilmente influenciada por tentativas de urbanização. Para ela, as questões não são de forma, mas de sensação. O seio em todos os seus formatos tem a função de sentir e amamentar. Ele amamenta? Ele é sensível? Então é um seio bom.

Já os quadris são largos por um motivo. Dentro deles há um berço de marfim acetinado para a nova vida. Os quadris da mulher são estabilizadores para o corpo acima e abaixo deles. Eles são portais, são uma almofada opulenta, suporte para as mãos no amor, lugar para as crianças se esconderem. As pernas foram feitas para nos levar, às vezes para nos empurrar. Elas são as roldanas que nos ajudam a subir; são o
anillo, o anel que abraça o amado. Elas não podem ser criticadas por serem muito isso ou muito aquilo. Elas simplesmente são.

No corpo, não existe nada que "devesse ser" de algum jeito. A questão não está no tamanho, no formato ou na idade, nem mesmo no fato de ter tudo aos pares, pois algumas pessoas não têm. A questão selvagem está em saber se esse corpo sente, se ele tem um vínculo adequado com o prazer, com o coração, com a alma, com o mundo selvagem. Ele tem alegria, felicidade? Ele consegue ao seu modo se movimentar, dançar, gingar, balançar, investir? É só isso o que importa."

(Foto: Harry Callahan)

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