5 de abril de 2013

A vida nascendo

 
O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse nosso bem maior e final, só que não é a morte. Deve se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer, não é de se brincar com ele. Ele é nós.
 
Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo

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