II
Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a
florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer,
quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho
precioso
e estremeces como um
pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o
centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um
tempo distante,
e na terra crescida os
homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te
que cem ideias,
dentro de mim, te
procuram.
Quando as folhas da
melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente
inventada
em seu escuro fundo e em
seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos
da minha solidão
como se toda a casa
ardesse pousada na noite.
— E então não sei o que
dizer
junto à taça de pedra do
teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam
nas luas espantadas
que às vezes se despenham
no meio do tempo
— não sei como dizer-te
que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera
inteira aprendo
os trevos, a água
sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço —
e penso que vou dizer algo
cheio de razão,
mas quando a sombra cai da
curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que
me faltam
um girassol, uma pedra,
uma ave — qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como
dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol,
o fruto,
a criança, a água, o deus,
o leite, a mãe,
o amor,
que te procuram.
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