O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro em "O Guardador de Rebanhos"
5 comentários:
Estava lendo numa Antologia poética do Fernando: a "galáxia pessoana". Vasta... além dos três heterônimos conhecidos, e de um semi-heterônimo: Bernardo Soares, do Livro do Desassossego... nas últimas décadas foram encontradas mais de 70 personalidades literárias (pequenos heterônimos).
...
Caeiro é seu mais diferente heterônimo.
"Se em Fernando Pessoa, 'O que em mim sente 'stá pensando', em Caeiro, tudo acontece ao contrário: 'Procuro dizer o que sinto/ Sem pensar em que o que sinto.'"
Amiga, ainda com esse heterônimo: "...Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer..." :)
Começou com um rebanho... e cheguei na "estrada sem curva nenhuma". :))
Abração... que vontade de te ver!
O caeiro é muito Fod...
tudo belo por aqui
beijo
Que lindo esse...e consegui juntar com o que estou lendo do Castaneda, "Um estranha realidade", que trata da diferençã de "olhar" e de "ver".
abs
Sheila
Teu gosto poético impressiona!
que belo texto lirico, que belo, que profundo, que tocante!
Estejas sempre feliz e vibrante com a vida, mon ami, sempre e sempre!
Feliz por ter estado aqui, contigo!
Ana, que aula, hein!? Adorei teu comentário. Tu sempre tens algo a acrescentar. Não é de hoje que me trazes sempre um algo mais, uma surpresa, uma curiosidade sobre algo que gosto, que estou a ler, ou então, sobre algo que ainda quero conhecer. Minha amiga, sou grata por poder partilhar do teu conhecimento.
Celso, obrigada pela sua visita.
Matuto, essa diferenciação entre olhar e ver é um dos aspectos bastante discutido no contexto das artes visuais, e claro, não somente aí. Fiquei interessada nesse material. Deixo assim, uma frase do Saramago sobre: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
Gilberto, obrigada pelas suas palavras sempre tão gentis.
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