1 de julho de 2018

Desobediência



Ontem assisti ao filme "Desobediência" (2017) do diretor Sebastian Lelio, e conduzida pelo título do mesmo, o tomei como um convite dirigido ao meu silêncio frente a ele. Trata-se desses filmes que dificultam uma definição precisa, não se sabe muito bem o que provoca a captura, se o enredo, as atuações, o ritmo, porém, eu arrisco acentuar o clima um tanto tenso, com nuances muito delicadas, que representa tão bem as forças postas em cena.


Ronit (Rachel Weisz) volta à pequena cidade onde nasceu, local marcado pela tradição judaica, em função da morte de seu pai, um rabino extremamente venerado pela comunidade que ali vive. Ao chegar é hospedada, sem muita receptividade, pelo seu primo Dovid (Alessandro Nivola), hoje casado com Esti (Rachel McAdams). O clima de tensão e desacomodação vai se desdobrando conforme as relações passadas dessas personagens começam a ser desveladas, sem que sejamos atropelados pela obviedade das informações que chegam de uma só vez. Aliás, é essa dança lenta, mas de passos audaciosos que faz com que fiquemos com os olhos bem abertos, atentos a uma linearidade densa que vai ligando sutilmente todos os pontos importantes que dão sustentação à trama. Não há imagens que remetam ao passado, apresenta-se primeiramente nos diálogos o passado que retorna com toda a carga, apontando para aquilo que resiste, apesar de...


Ronit e Esti encontram-se após longos anos e revivem (se é que podemos reviver algo) um encontro de amor e desejo. É possível localizar muito bem esses dois elementos que ganham força e tornam esse acontecimento inevitável. Uma das cenas mais bonitas do filme é o encontro sexual das duas mulheres, principalmente a cena em que Rolnit deixa cair sua saliva na boca de Esti, como que um conta gotas a ser oferecido a um ser vivo prestes a morrer de sede. Esti parece ali tomar-se novamente de algo que a acorda de um automatismo mortífero; uma ressurreição.


Outro aspecto importante se dá pelo fato de que Rolnit não é reconhecida naquela comunidade como a filha do rabino. Além do fato de ser mulher, o que produz uma diferença importante naquela tradição, foi morar em Nova York, deixando no imaginário local a ideia de abandono do pai. Sua vida é movida pela profissão de fotógrafa e marcada por valores nada tradicionais comparados aos daqueles que ali ficaram. Apesar dessas escolhas, a filiação se faz questão para ela, há uma reivindicação por esse lugar de filha que fora ocupado pelo seu primo, marido de Esti, o qual também é indicado para ser o sucessor de seu pai.


O nome-do-pai aqui se mostra em sua radicalidade, a figura do pai real possui uma representação maciça de tudo aquilo de mais poderoso no que concerne à lei e à tradição.

A filha desobediente, que seguiu seu caminho, retorna, já sem tempo, para reconciliar-se com esse pai. Porém, é a partir da trama inevitável do desejo que o lugar de filiação pode ser nomeado frente aos representantes daquela comunidade, reacomodando as peças desse jogo e fazendo com que a escolha possa ser exercida pelos três personagens. É através dessa nomeação que os mesmos podem afirmar suas posições enquanto sujeitos, com todas as dores e perdas que lhes cabem.


Luto, desejo, tradição, religião e filiação compõem esse belíssimo filme, de força sem igual, assim como são as forças que se mostram sutis. Desobediência aqui, diz também da sensibilidade colocada nesses personagens, que acima de tudo colocam a humanidade frente a tudo aquilo que impede passagem ao movimento incessante do desejo.

Vale escolher Desobediência!

S. Chaves

Um comentário:

Unknown disse...

O filme mais interessante! Eu também acho que Rachel McAdams é muito boa neste filme. Eu achei muito bom. A verdade superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. Uma historia cheia de incríveis personagens e cenas muito criativas. Acho que é um dos melhores da atriz. Por certo eu a vi faz um pouco em um dos seus ultimos filmes ação chamado A Noite do Jogo. Definitivamente é um dos melhores filmes do gênero, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. Também recomendo se você gosta da actriz. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver.