8 de setembro de 2019
Cheiro de palavra vazia
às vezes o bom da vida é a casca mesmo dos dias
bip da portaria, lixo na rua,
os tolos que dizem oi e andam e mandam
porque minhas palavras andam esquecidas
e meus dedos não sabem mais escrever
a casca das coisas tem falado comigo
eu respondo
assim consigo ver um pouco
de tudo o que não me interessa
o troco, a máquina, o cadastro
a pele que envelhece
eu pressinto
que em algum lugar há uma grávida de palavras
egoísta e redonda de si mesma
economiza, guarda, engole e fica ali
gestando
mal sabe que palavra tem tempo
tem hora e lugar nenhum
aguenta
o cheiro de palavra encolhida
mas invade
ocupa
fica olhando, parada, inchada de nadas
não sabe que cheira mal
a palavra vazia
não pode ler
nem faz casca
que a casca das coisas
fala comigo
S. Chaves
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