memória 4 - sobre aula do dia 14 de agosto/2008. (ver introdução às memórias)
Na primeira memória desenvolvida para essa disciplina, escolhi escrever sobre o método etnográfico, onde expressei um pensamento, um sentimento sobre um fator negativo que poderia estar presente no trabalho de campo: a postura de vaidade e superioridade do estudioso.
Porém, através das leituras sobre o estudo antropológico, pude perceber "o outro lado" dessa questão, a importância do método etnográfico como forma de desacomodar o pesquisador para que ele possa "tomar contato direto com seus pesquisados, obrigando-o a entrar num processo profundamente relativizador de todo o conjunto de crenças e valores que lhe é familiar". (DAMATTA, 1987)
Fazendo uma relação com meu cotidiano, consigo perceber essa importância de ir a campo, ou seja, trago à tona aquela velha questão entre teoria e prática.
Em minha experiência como professora de Ed. Infantil e alfabetizadora (como alfabetizadora por pouco tempo - apenas dois anos), ou seja, no contexto da educação escolar esse problema da teoria-prática é bastante presente e é de fato um problema a ser resolvido, pensando de forma otimista...
Muitas vezes as pessoas que têm funções que lhe dão poder de decisões, e de decisões importantes, que atingem significativamente o cotidiano do professor e do aluno, são profissionais teóricos, apenas! Profissionais imbuídos de teorias que se acumulam, mas nunca foram postas à prova, ou seja, não existe o contato direto, humano, de vivência com o dia-a-dia da sala de aula para a partir daí compreender as necessidades e a realidade de um grupo e adaptar essas teorias a uma real aplicabilidade.
O contrário também se torna um problema na educação e eu não saberia dimensionar, mas me parece que possa ser um problema ainda mais comum ou equivalente ao já mencionado, que é o do exercício da prática educativa sem o estudo e um conjunto de teorias importantes, que são o conhecimento mínimo que um professor precisa adquirir para direcionar e situar sua prática.
Essas duas questões, além de todo um contexto sócio-político, é que acabam por banalizar o processo educativo, transformando-o em um processo que não se alarga no sentido de significar crescimento pessoal, "cultural" e transformador para um indivíduo, e conseqüentemente para sua comunidade e daí para um contexto maior.
Essas duas questões, além de todo um contexto sócio-político, é que acabam por banalizar o processo educativo, transformando-o em um processo que não se alarga no sentido de significar crescimento pessoal, "cultural" e transformador para um indivíduo, e conseqüentemente para sua comunidade e daí para um contexto maior.
Acredito que o método etnográfico, pelo que tenho estudado (então correndo o risco de teorizar sobre algo que não vivenciei), mas pela compreensão que tenho tido, vem combinar de uma forma mais verdadeira a construção de teorias, interpretações, a partir da realidade vivida, ou seja, conhecer, compreender de fato o grupo, ambiente pesquisado, para que dessa forma possa se chegar a uma construção teórica, a dados sem a interferência de outros olhares (conclusões provindas de outros estudos sobre o mesmo objeto).
Um outro dado importante sobre o método etnográfico é que essa forma de pesquisa veio contribuir, ou vice-versa, com o abandono da postura evolucionista, a partir do séc. XX. "O ponto de vista evolucionista pressupõe que o curso das mudanças históricas na vida cultural da humanidade segue leis definidas, aplicáveis em toda parte, o que faria com que os desenvolvimentos culturais, em suas linhas básicas, fossem os mesmos entre todas as raças e povos". (BOAS, 1920)
Sendo assim, essa postura foi aos poucos substituída por uma "revolução funcionalista" pelo fato do método de pesquisa fundamentar-se no contato direto do estudioso com o grupo a ser investigado, na sua inserção e também aceitação nesse grupo, para que a partir daí se pudesse "perceber o conjunto da ações sociais dos antivos como um sistema, isto é, um conjunto coerente consigo mesmo"; ou então para "produzir interpretações das diferenças enquanto elas formam sistemas integrados". (DAMATTA, 1987)
Sendo assim, essa postura foi aos poucos substituída por uma "revolução funcionalista" pelo fato do método de pesquisa fundamentar-se no contato direto do estudioso com o grupo a ser investigado, na sua inserção e também aceitação nesse grupo, para que a partir daí se pudesse "perceber o conjunto da ações sociais dos antivos como um sistema, isto é, um conjunto coerente consigo mesmo"; ou então para "produzir interpretações das diferenças enquanto elas formam sistemas integrados". (DAMATTA, 1987)
A antropologia social, de acordo com Damatta, possui a característica de ser una e múltipla. Una pela sua posição de respeito por todas as formas de construções sociais, e múltipa na busca de seus dados, no sentido de não se prenser a nenhuma doutrina social, moral ou filosófica preestabelecida, a não ser aquela que diz "Nós sabemos apenas que não sabemos".
Essa última expressão destacada é um dos pontos que chama a minha atenção pois, ela resume a postura esperada no contexto da antropologia, já que essa ciência, como expressa o autor aqui tantas vezes citado, Roberto Da Matta, "tem um enorme coração onde cabem todas as sociedades e culturas". Sendo assim, o antropólogo precisará no mínimo possuir um coração de igual amplitude ou direcionar-se para isso.
Para finalizar, quero destacar um trecho de Franz Boas que vem representar de um modo geral as questões que envolvem o trabalho de campo, o processo educacional e outros contextos que necessitam compreensão, desacomodação e olhar sensível:
"Abstemo-nos de tentar solucionar os problemas fundamentais do desenvolvimento geral da civilização até que estejamos aptos a esclarecer os processos que ocorrem diante de nossos olhos."
Referências Bibliográficas:
BOAS, Franz. Antropologia Cultural; textos selecionados, apresentação e tradução Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
DAMATTA, Roberto. Relativizando - Uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
2 comentários:
Excelentes reflexões. Bom texto. Abraços. :)
Obrigada, Andréia! Volte sempre!
Já adicionei um de seus blogs... Interessante, consistente e delicado. Gostei!
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